Por José Gonçalves
Essa pergunta pode ser feita de outra forma: “Uma vez salvo para sempre salvo?”. A resposta, no entanto, depende da pessoa a quem ela é feita.
Essa pergunta pode ser feita de outra forma: “Uma vez salvo para sempre salvo?”. A resposta, no entanto, depende da pessoa a quem ela é feita. Para os crentes de convicção calvinista, a resposta é “Sim”. Para esses, uma vez que recebemos a salvação, não podemos mais perdê-la. Se porventura, alguém venha a se “desviar” ou se “perder”, é porque esse alguém nunca de fato foi salvo ou nasceu de novo. Em outras palavras, Deus predestinou alguns para irem para o Céu e outros para serem queimados no inferno. Não há mais o que fazer!
Mas, por outro lado, aqueles que se simpatizam com o pensamento arminiano, a resposta é “Não”. Para esses crentes, Deus nos capacitou com o livre-arbítrio, isto é, a capacidade de escolher ou rejeitar a salvação. Nesse caso, um crente que experimentou os “bens vindouros” pode sim, por uma escolha sua, abandonar a fé e perder a salvação. Nós, pentecostais, assim como os wesleyanos, cremos que a posição de Armínio é a que melhor se ajusta ao modelo bíblico.
Vejamos uma passagem bíblica que trata desse assunto e que, por isso mesmo, tem recebido interpretações diferentes por parte de calvinista e arminianos: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (Hb 6.4-8).
John Macarthur em sua Biblia de Estudo MacArthur, que reflete a posição calvinista, comenta a passagem de Hebreus 6.4-8 da seguinte forma: “A frase ‘uma vez foram iluminados’ frequentemente se toma como uma referência a cristãos, e a advertência que a acompanha se toma como uma indicação do perigo de perder a sua salvação se ‘recaíram’ e ‘crucificaram de novo para si mesmo o filho de Deus’. Pelo que não há menção de que sejam salvos e não são descritos com nenhum término que se aplique unicamente a crentes (tais como santo, nascido de novo, justo ou santos). Este problema emana a partir de uma identificação imprecisa da condição espiritual daqueles aos quais o autor se está dirigindo. Neste caso, eram incrédulos que haviam chegado ao ponto de ter uma salvação genuína. Em 10.26, faz-se referência uma vez mais a cristãos apóstatas, não a crentes genuínos de quem frequentemente se pensa que perdem sua salvação por seus pecados”.
Daniel B. Pecota, teólogo de tradição pentecostal, observa que no Novo Testamento encontramos apoio para a doutrina da segurança do crente, todavia não como querem os calvinistas extremados. Por exemplo, encontramos passagens bíblicas que mostram que nada de tudo quando Deus deu a Jesus se perderá (Jo 6.38-40). Que as suas ovelhas jamais perecerão (Jo 10.27- 30). Jesus orou para que Deus protegesse os seus seguidores (Jo 17.11). Somos guardados por Cristo (1Jo 5.18). Que o Espírito Santo é o selo de garantia da nossa salvação (Ef 1.14). O seu poder nos guardará (1Pe 1.5). Deus que habita em nós é maior do que qualquer coisa fora de nós (1Jo 1.4).
Por outro lado, a Bíblia de Estudo Pentecostal, ao comentar a mesma passagem bíblica de Hebreus 6.4-8, diz: “Nestes três versículos (Hb 6.4-6) o escritor de Hebreus trata das consequências da apostasia (decair da fé). Esta palavra (recaíram, gr. parapesontas, de parapipto) é um particípio aoristo e deve ser traduzido no tempo passado – literalmente: “tendo decaído”. O escritor de Hebreus apresenta a apostasia como algo realmente possível.”
Daniel B. Pecota observa que os calvinistas desconsideram dezenas de passagens bíblicas que se contrapõe a teoria de “uma vez salvos para sempre salvos”. Observa-se que os teólogos da tradição calvinista ou reformada fazem dezenas de contorções teológicas para fundamentar suas convicções. John MacArthur, como já vimos, tenta anular a possibilidade de o crente vir a perder a sua salvação argumentando que as pessoas citadas na epístola aos Hebreus 6 não eram crentes. Mas como poderia o autor falar de descrentes perderem a sua salvação se eles nem mesmos eram salvos? Por outro lado, Millard Erickson, renomado expositor bíblico, também de tradição calvinista, argumenta que o autor fala de uma “apostasia” apenas hipotética! Ele argumenta que o autor diz que poderíamos apostatar, porém, mediante o poder de Cristo para nos conservar, isso não vai acontecer. Se é uma possibilidade que não existe, então por que o autor falaria dela? Um argumento que se autoanula!
Há dezenas de passagens bíblicas que, de fato, mostram que alguém pode apostatar ou perder a sua salvação. Jesus, por exemplo, diz que o amor de muitos esfriará (Mt 24.12-13). Ele adverte que aqueles que olham para trás são indignos do reino (Lc 9.62). Nos adverte ainda a nos lembrarmos da mulher de Ló (Lc 17.32). O Senhor advertiu ainda que se alguém não permanecer nEle será cortado (Jo 15.6). Paulo, o apóstolo da graça, adverte que podemos cair da graça (Gl 5.4). Ele ainda lembra que alguns naufragaram na fé (1Tm 1.19) e que outros abandonarão a fé (1Tm 4.1).
Para Paulo, aquele que negar o Senhor será negado por Ele (2Tm 2.12). E Pedro cita aqueles que escaparam da corrupção do mundo pelo conhecimento do Senhor Jesus Cristo e que depois se desviaram. Todos esses textos mostram a possibilidade real, e não apenas hipotética, de alguém vir a perder a salvação. Como se desencadeia esse processo: 1) O cristão deixa de levar a sério as advertências da Palavra (Lc 8.13; Jo 5.44,47); 2) Quando o mundo passa a ser mais importante do que o Reino de Deus (Hb 3.13); 3) Uma tolerância para com o pecado (1Co 6.9-10); 4) Dureza do coração (Hb 3.8,13); e 5) Entristecer o Espírito Santo deliberada e continuamente (Ef 4.30).
A apostasia, portanto, é uma real possibilidade, mas não devemos nos centrar nela, mas na graça de Deus. Ainda ao tratar desse assunto, a Bíblia de Estudo Pentecostal observa que, embora seja um perigo para todos os que vão se desviando da fé e se apartam de Deus, a apostasia não se consuma sem o constante e deliberado pecar contra a voz do Espírito Santo. As Escrituras afirmam com clareza que Deus não quer que ninguém pereça (2Pe 3.9) e declaram que Ele receberá todos que já desfrutaram da graça salvadora, se arrependidos, voltarem para Ele (cf Gl 5.4; 2Co 5.1-11; Rm 11.20-23; Tg 5.19-20). Fica a advertência bíblica para nós: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações (Hb 3.7-8,15; 4.7).
*Texto publicado na página 28 da revista GeraçãoJC, Ano XII, nº 83, CPAD.
Mas, por outro lado, aqueles que se simpatizam com o pensamento arminiano, a resposta é “Não”. Para esses crentes, Deus nos capacitou com o livre-arbítrio, isto é, a capacidade de escolher ou rejeitar a salvação. Nesse caso, um crente que experimentou os “bens vindouros” pode sim, por uma escolha sua, abandonar a fé e perder a salvação. Nós, pentecostais, assim como os wesleyanos, cremos que a posição de Armínio é a que melhor se ajusta ao modelo bíblico.
Vejamos uma passagem bíblica que trata desse assunto e que, por isso mesmo, tem recebido interpretações diferentes por parte de calvinista e arminianos: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (Hb 6.4-8).
John Macarthur em sua Biblia de Estudo MacArthur, que reflete a posição calvinista, comenta a passagem de Hebreus 6.4-8 da seguinte forma: “A frase ‘uma vez foram iluminados’ frequentemente se toma como uma referência a cristãos, e a advertência que a acompanha se toma como uma indicação do perigo de perder a sua salvação se ‘recaíram’ e ‘crucificaram de novo para si mesmo o filho de Deus’. Pelo que não há menção de que sejam salvos e não são descritos com nenhum término que se aplique unicamente a crentes (tais como santo, nascido de novo, justo ou santos). Este problema emana a partir de uma identificação imprecisa da condição espiritual daqueles aos quais o autor se está dirigindo. Neste caso, eram incrédulos que haviam chegado ao ponto de ter uma salvação genuína. Em 10.26, faz-se referência uma vez mais a cristãos apóstatas, não a crentes genuínos de quem frequentemente se pensa que perdem sua salvação por seus pecados”.
Daniel B. Pecota, teólogo de tradição pentecostal, observa que no Novo Testamento encontramos apoio para a doutrina da segurança do crente, todavia não como querem os calvinistas extremados. Por exemplo, encontramos passagens bíblicas que mostram que nada de tudo quando Deus deu a Jesus se perderá (Jo 6.38-40). Que as suas ovelhas jamais perecerão (Jo 10.27- 30). Jesus orou para que Deus protegesse os seus seguidores (Jo 17.11). Somos guardados por Cristo (1Jo 5.18). Que o Espírito Santo é o selo de garantia da nossa salvação (Ef 1.14). O seu poder nos guardará (1Pe 1.5). Deus que habita em nós é maior do que qualquer coisa fora de nós (1Jo 1.4).
Por outro lado, a Bíblia de Estudo Pentecostal, ao comentar a mesma passagem bíblica de Hebreus 6.4-8, diz: “Nestes três versículos (Hb 6.4-6) o escritor de Hebreus trata das consequências da apostasia (decair da fé). Esta palavra (recaíram, gr. parapesontas, de parapipto) é um particípio aoristo e deve ser traduzido no tempo passado – literalmente: “tendo decaído”. O escritor de Hebreus apresenta a apostasia como algo realmente possível.”
Daniel B. Pecota observa que os calvinistas desconsideram dezenas de passagens bíblicas que se contrapõe a teoria de “uma vez salvos para sempre salvos”. Observa-se que os teólogos da tradição calvinista ou reformada fazem dezenas de contorções teológicas para fundamentar suas convicções. John MacArthur, como já vimos, tenta anular a possibilidade de o crente vir a perder a sua salvação argumentando que as pessoas citadas na epístola aos Hebreus 6 não eram crentes. Mas como poderia o autor falar de descrentes perderem a sua salvação se eles nem mesmos eram salvos? Por outro lado, Millard Erickson, renomado expositor bíblico, também de tradição calvinista, argumenta que o autor fala de uma “apostasia” apenas hipotética! Ele argumenta que o autor diz que poderíamos apostatar, porém, mediante o poder de Cristo para nos conservar, isso não vai acontecer. Se é uma possibilidade que não existe, então por que o autor falaria dela? Um argumento que se autoanula!
Há dezenas de passagens bíblicas que, de fato, mostram que alguém pode apostatar ou perder a sua salvação. Jesus, por exemplo, diz que o amor de muitos esfriará (Mt 24.12-13). Ele adverte que aqueles que olham para trás são indignos do reino (Lc 9.62). Nos adverte ainda a nos lembrarmos da mulher de Ló (Lc 17.32). O Senhor advertiu ainda que se alguém não permanecer nEle será cortado (Jo 15.6). Paulo, o apóstolo da graça, adverte que podemos cair da graça (Gl 5.4). Ele ainda lembra que alguns naufragaram na fé (1Tm 1.19) e que outros abandonarão a fé (1Tm 4.1).
Para Paulo, aquele que negar o Senhor será negado por Ele (2Tm 2.12). E Pedro cita aqueles que escaparam da corrupção do mundo pelo conhecimento do Senhor Jesus Cristo e que depois se desviaram. Todos esses textos mostram a possibilidade real, e não apenas hipotética, de alguém vir a perder a salvação. Como se desencadeia esse processo: 1) O cristão deixa de levar a sério as advertências da Palavra (Lc 8.13; Jo 5.44,47); 2) Quando o mundo passa a ser mais importante do que o Reino de Deus (Hb 3.13); 3) Uma tolerância para com o pecado (1Co 6.9-10); 4) Dureza do coração (Hb 3.8,13); e 5) Entristecer o Espírito Santo deliberada e continuamente (Ef 4.30).
A apostasia, portanto, é uma real possibilidade, mas não devemos nos centrar nela, mas na graça de Deus. Ainda ao tratar desse assunto, a Bíblia de Estudo Pentecostal observa que, embora seja um perigo para todos os que vão se desviando da fé e se apartam de Deus, a apostasia não se consuma sem o constante e deliberado pecar contra a voz do Espírito Santo. As Escrituras afirmam com clareza que Deus não quer que ninguém pereça (2Pe 3.9) e declaram que Ele receberá todos que já desfrutaram da graça salvadora, se arrependidos, voltarem para Ele (cf Gl 5.4; 2Co 5.1-11; Rm 11.20-23; Tg 5.19-20). Fica a advertência bíblica para nós: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações (Hb 3.7-8,15; 4.7).
*Texto publicado na página 28 da revista GeraçãoJC, Ano XII, nº 83, CPAD.