INTRODUÇÃOUm dos principais problemas da Teologia da Ganância está na ausência de princípios sólidos para a interpretação da Escritura. Seus adeptos utilizam textos isolados e descontextualizados para justificar pontos de vistas antibíblicos. Filipenses 4.13 é um exemplo desse tipo de equívoco, não poucos citam esse texto para argumentar que podem fazer qualquer coisa. Na lição de hoje, estudaremos essa passagem atentando para o contexto, que nos conduzirá a uma percepção mais madura da fé, que nos orienta a confiar em Deus, independentemente das circunstâncias.
1. PRESO, MAS ALEGRE E CONFIANTEA
Epístola ao Filipenses foi escrita por Paulo, por volta de 63 d. C.,
pouco tempo depois desse mesmo Apóstolo ter plantado uma igreja naquela
cidade, situada na Macedônia oriental, a 16 km do Mar Egeu (At.
16.9-40). Ao longo da Epístola, percebemos o forte laço de amizade entre
os irmãos filipenses e Paulo, tendo esses enviado ajuda financeira ao
Apóstolo várias vezes (II Co. 11.9; Fp. 4.15,16). Ao que tudo indica,
Paulo teria visitado essa igreja duas vezes durante sua terceira viagem
missionária (At. 20.1-6). A Epístola ao Filipenses é uma daquelas Cartas
da Prisão (Fp. 1.7, 13, 14), quando o Apóstolo estava encarcerado em
Roma (At. 28.16-31). Um dos objetivos dessa Epístola é agradecer a
generosidade dos irmãos, em razão da oferta providenciada por eles (Fp.
4.14-19). Mesmo preso em Roma, Paulo revela sua confiança em Deus, e
roga aos irmãos para que não fiquem desanimados por causa da sua
condição (Fp. 1.12-26). Ele aproveita a oportunidade para orientar os
crentes para que estejam alegres – uma palavra chave na Epístola aos
Filipenses, chara em grego – em todas as circunstâncias da vida (Fp.
1.4, 12; 2.17,18; 4.4, 11-13). Ao contrário do que defendem os adeptos
do pseudopentecostalismo, propondo um modelo triunfalista de
cristianismo, Paulo instiga à humildade e ao serviço cristão,
ressaltando o exemplo de Cristo, que mesmo sendo Deus, tomou forma
humana, como servo (Fp. 2.1-16).
2. TUDO PODEMOS, INDEPENDENTEMENTE DAS CIRCUNSTÂNCIASA
vida cristã não é orientada pelas circunstâncias, tendo em vista que
somos desafiados, a todo o momento, a vivermos acima delas. Paulo nos
ensina, nessa Epístola, a vivermos contentes, a não nos deixarmos
solapar pelas vicissitudes existenciais. Mas o contentamento não é algo
que se consegue do dia para a noite, é resultado do fruto do Espírito
(Gl. 5.22), trata-se de uma alegria que não se deixa abalar, mesmo
quando tudo parece não se ajustar ao nossos bem estar. A esse respeito
diz o Apóstolo: “Não digo isto por causa de necessidade, porque já
aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre” (Fp.
4.11). O contentamento é resultado de aprendizado, e muitas vezes, com
provas difíceis, e certamente, com notas baixas. Às vezes, é preciso
perder bastante para aprender que é “grande fonte de lucro a piedade com
o contentamento” (I Tm. 6.6). A palavra contentamento em grego é
autarkes e diz respeito à suficiência, a convicção de ter o que é
preciso, a certeza de que o Senhor é o nosso Pastor e de que nada nos
fará falta (Sl. 23.1). É a certeza de que Deus providencia o que
necessitamos, uma satisfação por ter as carências básicas supridas pelo
Senhor (I Tm. 6.8; Hb. 13.5). A declaração de Paulo “tudo posso” precisa
ser compreendia nesse contexto, não como uma palavra mágica que pode
ser utilizada para fazer coisas que estão além da vontade soberana de
Deus. O Apóstolo sabia estar diante de Deus em toda e qualquer situação,
tal como José que demonstrou ser fiel tanto na fartura quanto na
necessidade (Gn. 45.5; 50.20). Algumas pessoas não sabem passar por
necessidades, outras não conseguem lidar com a fartura, mas o cristão
maduro, pode, independentemente das circunstâncias, viver para Deus (II
Co. 6.16-18).
3. NAQUELE QUE FORTALECEA
prosperidade material, amplamente almejada nesses dias, tem causado
mais malefícios do que bênçãos. Muitas igrejas estão esquecendo de
buscar ao Senhor, investiram demasiadamente em construções, mas deixaram
de dar o o devido valor à edificação espiritual (Ap. 3.17). Cristo é o
Mestre que nos ensina a não vivermos ansiosos, a não estamos
demasiadamente preocupados com as necessidades da vida e a não depositar
a nossa confiança nas riquezas (Mt. 6.25-34). A fonte da qual recebemos
contentamento, satisfação plena, é Cristo, pois sem Ele nada podemos
fazer (Jo. 15.5). Paulo não estava desprezando a oferta generosa dos
irmãos filipenses, antes os elogia pelo desprendimento. Ele destaca,
fazendo um contraponto, que eles foram de encontro com a necessidade
dele, mas que Deus iria de encontra a todas as suas necessidades, que
Ele havia contribuído mesmo na pobreza, mas que Deus supriria as suas
necessidades em Suas riquezas em glória (Fp. 4.18,19). É importante
destacar que Deus não promete suprir todas as nossas “ganâncias”, mas
todas as nossas "necessidades". Muitas pessoas não conseguem vivem
contentes porque se deixam levar pelas supostas necessidades criadas
pela mídia, movida pela sociedade de consumo, que não permite que se
encontre plena satisfação.
CONCLUSÃOPrecisamos
aprender, como Paulo, a viver contentes, a encontrar plena satisfação
em Cristo. Muitos pedem, declaram, até citam Jo. 14.13, achando que
receberão qualquer coisa que pedirem, mas não relativizam, que muitos
pedem, mas não recebem, porque pedem mal, para esbanjar em seus deleites
carnais (Tg. 4.2,3). Somente aqueles que aprenderam na escola de Cristo
a estarem satisfeitos nEle, podem dizer, com o Apóstolo, que: “tudo
podem naquele que me fortalece”.
BIBLIOGRAFIALOPES, H. D. Filipenses. São Paulo: Hagnos, 2007.
MARTIN, R. P. Filipenses: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986.
MARTIN, R. P. Filipenses: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986.
Fonte: O ASSEMBLEIANO