Deus vê o coração

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Quando estudamos a dinâmica da Missão, percebemos o risco de não nos distanciarmos da  terrível influência humanista que leva o homem de hoje a valorizar, sobretudo, sua própria felicidade. É uma era marcada pela busca do prazer, conforto e auto-realização. Em lugar dos valores do Reino estamos sendo invadidos por paradigmas do mundo como a valorização da imagem, atividades personalistas e a celebração da nossa própria capacidade, títulos e diplomas. Porém, o contraposto deste movimento, que cultua a carne e celebra o homem, é o Evangelho que lembra-nos aos brados que o centro da Missão é a pessoa de Jesus Cristo.
Para evitarmos uma contaminação humanista irreversível, precisamos inicialmente compreender que a ação missionária não deve ser definida em termos de resultados, mas sim pela fidelidade ao Senhor.
Não apregôo uma proclamação estéril do Evangelho, entretanto devemos entender que a Missão não deve ser avaliada apenas pelos resultados numéricos, visíveis e contábeis, mas sim pela fidelidade de coração.
Charles Kermann nos adverte que “nada do que tocamos é eterno”, lembrando-nos que as coisas eternas não podem ser medidas por olhos humanos. Precisamos resgatar uma missiologia mais escriturística que induz a Igreja à fidelidade, e menos empresarial que exalta o homem na proporção dos seus resultados.
Wiliiam Davison faz uma clara distinção entre reputação, o externo que pode ser visto pelos homens e o caráter que é a verdade sobre nossas vidas, dizendo que:
“Reputação é o que os homens pensam a seu respeito mas o caráter é quem você  verdadeiramente é. Reputação é a fotografia, mas o caráter é a face.
Reputação fará de você rico ou pobre, mas o caráter fará de você feliz ou infeliz.
Reputação é o que os homens falam a seu respeito no dia do seu funeral, mas o caráter é o que os anjos dizem de você perante o trono de Deus”.
Desta forma, o Dr. Russel Shedd, muito sabiamente, nos adverte que freqüentemente nos impressionamos com homens e ministérios que não impressionam a Deus. Na verdade, nos impressionamos pelas estruturas construídas, números apresentados nos relatórios, pela retórica na pregação e resultados chamativos, mas Deus julga o coração.
A obra missionária deve ser norteada por uma Igreja que cuida do seu caráter e não o negocia perante a demanda dos resultados rápidos.
Se entendemos que fidelidade ao Senhor é a raiz para o movimento missionário, precisamos então nos perguntar sobre a sua motivação. Qual é a verdadeira força propulsora de um movimento missionário? Há vários caminhos possíveis para desenharmos uma resposta, mas ao longo da história do Cristianismo vemos nitidamente aqueles que buscaram basear seus ministérios na própria capacidade humana e aqueles que o fizeram na graça de Deus.
Paulo faz parte deste segundo time e deixa isto bem claro à Igreja em Corinto, quando apresenta os apóstolos, incluindo também a si, como “fracos, desprezíveis, lixo do mundo e escória de todos”. Em outras palavras, ele dizia: Nós não somos apóstolos porque somos capazes. Somos apóstolos pela graça de Deus.
Vem agora à minha mente a história do Sr. João, o qual encontrei em uma região isolada a 4 dias de caminhada na selva amazônica entre as tribos Kambeba, Miranha e Kokama. Para nossa surpresa aquelas comunidades indígenas haviam sido alcançadas, tendo agora maduras igrejas, e o missionário foi este pescador leigo voluntário, membro da Assembléia de Deus e homem apaixonado pelo Evangelho de Jesus. Ele vivia em um paupérrimo flutuante próximo a uma das comunidades indígenas, sem sustento ou cobertura de oração. Jamais teve seu nome mencionado nos relatórios missionários ou foi apresentado como obreiro em um congresso.
Não precisava disto. Irradiava felicidade ao apresentar-nos às tribos e afirmar: “isto é o que Deus pode fazer”.
Precisamos reacender a chama missionária no Brasil. Devemos priorizar o caráter sobre a imagem, buscando fidelizarmos nosso compromisso missionário. Precisamos relembrar aos jovens que a Graça do Pai e não a nossa mera capacidade humana é o alicerce da expansão da fé. Precisamos simplificar o processo de evangelização e descomplicar o envio missionário. Assim, poderemos sonhar um pouco mais e crer que o impossível vai acontecer.
Pr. Ronaldo Lidório é missionário, tradutor e expositor
bíblico. Casado com Rossana e pai de dois filhos,
atuou como missionário na África durante 10 anos
entre as tribos Konkomba e Chakali. Atualmente
lidera uma equipe que trabalha para alcançar gru-
pos indígenas na Amazônia Brasileira. É tradutor
do Novo Testamento para a língua Limonkpeln, de
Gana e consultor cultural para projetos pioneiros
entre povos animistas em diversos campos. Dou-
tor em Antropologia Cultural escreveu diversos
livros, dentre eles “Missões, o desafio continua”
e “Konkombas”. É ligado à Agência Presbiteriana
de Missões Transculturais (APMT) e à Missão
AMEM.

Fonte:www.semap.com.br
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