Cristã está em uma cadeia do Paquistão desde 2009
        
        
        
        
        
 O título de suas memórias é justamente “Blasfêmia”, e foi ditado ao seu
 marido nas vezes que ela a visitou na prisão. Ele entregou o texto à 
jornalista francesa Anne-Isabelle Tollet, que o revisou e encaminhou 
para uma editora. Agora Asia poderá mostrar ao mundo a versão da vítima 
desse caso que se tornou um símbolo da luta pelos direitos humanos.
 Para a maioria de seus vizinhos, Aasiya Noreen, mais conhecida como 
Asia Bibi, é apenas uma mãe pobre de cinco filhos que mora na pequena 
aldeia de Ittan Wali, no Paquistão. Seu grande crime é ser cristã em um 
país onde 97% da população é muçulmana.
 Desde 2009 ela está numa cela de prisão, podendo enfrentar em breve a 
morte por enforcamento. A acusação de blasfêmia a persegue. Sua única 
chance de continuar viva é se converter ao islamismo. Ela sabe que um 
julgamento justo nunca virá. Mesmo assim, decidiu contar sua história em
 forma de livro.
 O governo do Paquistão já sofreu pressão internacional para libertá-la,
 mas teme a reação dos extremistas muçulmanos. Aos 42 anos ela foi 
transferida recentemente para uma prisão mais remota, onde teme que seja
 assassinada. Dois funcionários do governo que tentaram defendê-la desde
 sua prisão foram assassinados. Um deles era Salman Taseer, governador 
do Estado de Punjab, o outro era Shahbaz Bhatti, Ministro das Minorias, 
que foi morto pelo Talibã poucos meses depois.
 No livro, Bibi explica a “transgressão” simples que pode lhe custar a 
vida. Ela vivia pacificamente em sua aldeia até o dia em que foi acusada
 por uma vizinha, Musarat, e três outras mulheres, de ter insultado o 
islamismo e o profeta Maomé. Embora tenha negado por diversas vezes, os 
demais moradores não acreditaram na sua palavra.
 O chefe da aldeia disse que ela devia provar isso convertendo-se ao 
Islã. Ela disse que permaneceria fiel a Jesus. Por isso, Bibi foi 
agredida violentamente pelos muçulmanos, inclusive com pedaços de pau. 
Quando estava quase inconsciente, os policiais chegaram e a prenderam 
sob a acusação de “blasfêmia”.
 Na delegacia, com muitos sangramentos e um braço quebrado, pediu 
compressas para as feridas. Não recebeu e foi algemada e acorrentada, 
sendo levada para a prisão de Sheikhupura, onde está detida.
 O relato biográfico de Asia Bibi será lançado no início de setembro e 
pretende contar a história desta mulher que se tornou um símbolo dos 
atos de violência cometidos por questões religiosas, uma clara violação 
dos direitos humanos. As informações são de Urban Christian News e New 
York Post.
 Leia abaixo um trecho:
 “Eu não sei quanto tempo me resta para viver. Toda vez que a porta da 
minha cela se abre, meu coração bate mais rápido. Minha vida está nas 
mãos de Deus e eu não sei o que vai acontecer comigo. É uma existência 
brutal, cruel. Mas eu sou inocente. Eu sou culpada apenas de ser 
considerada culpada. Estou começando a me perguntar se ser cristão no 
Paquistão, hoje em dia não é apenas ser diferente, mas se trata de um 
verdadeiro crime.
 Mesmo mantida nessa minúscula cela sem janelas, quero que minha voz e 
minha raiva possam ser ouvida. Eu quero que o mundo inteiro saiba que eu
 posso ser enforcada por causa do meu vizinho. O que eu fiz de errado? 
Eu bebi água de um poço pertencente aos muçulmanos, usando o copo 
“deles”, no calor ardente do sol do meio-dia.
 Eu, Asia Bibi, fui condenada à morte porque estava com sede. Eu estou 
prisioneira porque decidi ser gentil com uma vizinha. Eu servi um copo 
de água e ofereci e ela. Usei o mesmo copo que as mulheres muçulmanas, 
pois a água servida por uma mulher cristã era considerada impura pelas 
outras mulheres da vila, aquelas ignorantes catadoras de frutas.
 Aquele dia, 14 de junho de 2009, está impresso em minha memória. Eu 
ainda posso ver cada detalhe. Acordei cedo de manhã e fui participar da 
colheita e trabalhei muito… até que tive sede… Uma outra mulher estava 
junto comigo no poço. Após eu beber no copo de metal que fica no poço, 
ofereci a ela. Foi quando Musarat começou a gritar “haram” [pecado]… 
Ouçam, todas vocês, esta cristã sujou a água do poço, bebendo em nosso 
copo e mergulhando-o de volta várias vezes. Agora a água está suja e não
 podemos mais beber! Por causa dela!
 Era tão injusto, que pela primeira vez decidi me defender e levantar 
minha voz. “Eu acho que Jesus vê as coisas diferentemente de Maomé.” 
Musarat fica furiosa. “Como você se atreve a falar do Profeta, seu 
animal imundo!” Três outras mulheres começam a gritar ainda mais alto.
 “Isso mesmo, você é apenas uma cristã imunda! Você contaminou a nossa 
água e agora se atreve a falar o nome do Profeta! Estúpida, seu Jesus 
não tinha sequer um bom pai, ele era um filho da prostituta, você não 
sabe disso. “
 Musarat parecia que vinha me agredir e gritou: “Você deveria se converter ao islamismo para se redimir de sua religião imunda”.
 Eu ainda sinto uma profunda dor dentro do meu peito. Nós, cristãos, 
sempre ficamos em silêncio. Fomos ensinados desde bebês a nunca dizer 
nada e mantermos a calma, por que somos uma minoria. Mas eu sou teimosa 
demais e queria reagir, queria defender a minha fé. Respirei fundo e 
enchi meus pulmões com coragem. “Eu não vou me converter. Eu acredito na
 minha religião e em Jesus Cristo, que morreu na cruz pelos pecados da 
humanidade. O que o seu profeta Maomé fez para salvar a humanidade? E 
por que eu deveria me converter e não você?”
 Musarat cuspiu na minha cara com todo o desprezo que ela podia 
demonstrar. Elas me empurraram. Mesmo enquanto eu corria para casa, 
ainda podia ouvi-las me ofendendo”.
  
Fonte:Cpad News