Cresci numa igreja evangélica e passei toda minha adolescência e juventude ouvindo que nossa geração iria ou deveria alcançar o mundo e mudar a história de missões. No entanto quando olha para a minha geração e até mesmo para uma geração posterior a minha percebo que aquele discurso nada mais era do que o desejo de alguns, que na verdade não se cumpriu como diziam ou esperavam alguns de nós.
Olhando seriamente para o movimento missionário mundial e especificamente para o Brasileiro fica claro que nós perdemos uma ou quem sabe duas gerações. Na década de 90 enviamos centenas de missionários aos campos, pois a condição econômica da época contribuía para isso. Hoje quando olhamos para os números, eles nos assuntam. Nossos missionários enviados naquela época estão voltando do campo, pois a grande maioria está completando 65 anos e se aposentando, no entanto nós não conseguimos como igreja Brasileira, repor o número de missionários que retornam do campo e o que é pior não conseguimos aumentar o número de missionários de forma compatível como o crescimento da igreja Brasileira.
A igreja Evangélica Brasileira cresceu muito nos últimos 10 anos, mais o movimento missionário não cresceu na mesma proporção. Nossas igrejas estão repletas de jovens entre 17 e 35 anos, mas a grande maioria deles nunca pensou no envolvimento missionário e alguns deles que chegaram a pensar tiveram seus desejos esmagados por uma avalanche de conceitos, modelos e idéias presentes nas nossas igrejas que os afastaram por definitivo da vocação missionária.
Ao olhar para esta geração me recordo de Jonas. Jonas o profeta mesmo recebendo uma ordem expressa da parte de Deus para ser testemunha de salvação para os Ninivitas foge da presença de Deus. Ao fugir da presença de Deus Jonas nega todo o amor que Deus tem por aquele povo e todo desejo do coração de Deus em trazer reconciliação e salvação.
Eu não tenho dúvidas que Deus nestes dias continua chamando outros “Jonas” para trazer salvação a tantos povos que carecem da presença e do amor maravilhoso do nosso amado Salvador, no entanto também creio que muitos de nossos jovens estão como Jonas fugindo do seu chamado. Essa fuga muitas vezes é alimentada como disse antes por uma série de fatores presentes nas nossas igrejas.
Individualismo
É inquestionável que nossa cultura atual alimenta na vida dos jovens cada vez mais um sentimento de individualismo onde prevalece o ditado: “ cada um por si e Deus por todos”. Nossos jovens são instigados a cada vez mais serem melhores uns que os outros já a partir da sua infância. São ensinados que o mundo é uma “selva” onde a lei do mais forte é que prevalece, sendo assim precisam se destacar, serem os melhores, ganhar a qualquer custo. Tudo isso cria entre eles uma cobrança tão grande que dificilmente você encontrará jovens dispostos a se dedicarem à pequenos trabalhos missionários ou mutirões pois, eles alegaram não terem tempo, pois precisam passar no concurso, precisam tirar a melhor nota, precisam se sobressair em relação aos outro.
Não estou dizendo aqui que não precisamos ser bons nos que fazemos e a cada dia dar o melhor de nós, afinal a grande necessidade atual nos campos missionários hoje é de jovens com as mais variadas formações profissionais, mas a pergunta que faço é: Fazemos isso pra que? Somos cristãos sobre o pretexto de sermos servos de Deus. Mas onde e quando servimos a Deus com tudo o que ele tem nos dado?
Será que essa cobrança e cultura impositiva sobre nossos jovens não tem tirado deles o sentimento do comunitário, do serviço, do amor ao próximo e porque não dizer do chamado para missões? Por que será que como pais temos tanto medo de que nossos filhos venham até nós e digam que querem dedicar suas vidas ao serviço do Reino?
Essa cultura individualista presente inclusive nas nossas igrejas precisa ser quebrada, precisa ser extinta do nosso meio. O que precisamos é de homens e mulheres, de jovens que sigam o exemplo dos discípulos que diante do convite do mestre para Servi-lo deixam para trás suas próprias vidas por amor a Cristo e por amor ao evangelho.
Místico X Espiritual
Outro fator que me intriga é o fato que muitos de nossos jovens, deixaram de ter uma vida espiritual, ou seja, uma vida guiada pelo Espírito de Deus para terem uma vida baseada em experiências místicas. Há uma infinidade de vertentes evangélicas nos nossos dias que afastam nossos jovens do real sentido bíblico de nossa existência.
Em nossos encontros de jovens muitos se sentem satisfeitos com pequenas experiências que nem sempre são conduzidas pelo espírito, mais que na maioria das vezes é reflexo de um ambiente emocional. Essas experiências não trazem arrependimento genuíno e tão pouco compromisso com o reino de Deus, é o que eu gosto de chamar de “o evangelho do aqui agora”, que nada mais é que estar num lugar legal, com gente legal, sentindo uma emoção legal, mas nada disso me leva a um comprometimento com a palavra de Deus ou com seu reino. Geralmente esses tipos de experiências levam em conta o que Deus faz por mim e dificilmente nos leva a refletir sobre o que nós devemos fazer por Deus.
Neste modelo se dá mais valor ao triunfalismo do que a vida sacrificial, falar de serviço na África, Ásia ou em qualquer lugar que seja que nos leve a um sacrifício é inaceitável. Pois para esses o evangelho não contempla o sacrifício, mais sim a “vitória”, o “bem estar” ou até mesmo a “prosperidade”.
É interessante perceber que todas as manifestações do Espírito Santo no novo testamento, logo após a promessa de Jesus em Atos 1:8 são seguidas de grande arrependimento e novas conversões, bem diferente do que podemos ver nos nossos encontros atuais.
Ainda sonho com o tempo em que o Espírito de Deus se levantará no nosso meio como em atos 13 e dirá separarem para mim o Rodrigo, a Maria, o Felipe e tantos outros para a obra que os tenho chamado.
Conclusão
Pode ser que alguns de vocês começaram lendo este artigo imaginando que ele seja uma crítica aos jovens de nosso tempo, na verdade não é. É sim um alerta para nós que estamos pastoreando esses jovens, mentoriando esses rapazes e moças. Esse é um grito de desespero para que retornemos a bíblia e não permitamos que uma nova geração passe. Mas que nossos jovens sejam desafiados a colocarem suas vidas a serviço do Reino acima de qualquer coisa. Que tenhamos uma nova geração refletindo a cerca dos modelos missionários e porque não trazendo para o trabalho missionário uma nova perspectiva, um novo modelo que irá refletir ao longo das gerações Cristo na vida de milhares de povos não alcançados.
É preciso levar nossos jovens a um comprometimento real com o Reino e não com nossos guetos evangélicos. Nós líderes precisamos para de achar que o Reino de Deus se resume somente a nossas comunidades e entender que a vontade de Deus deve prevalecer que o chamado do Pai é muito mais importante para a vida dos nossos jovens do que a carreira que nos definimos para eles.
Que nossas “Nínives” sejam alcançadas pela graça de Deus através de jovens que decidiram atender prontamente o chamado do Mestre.