Há
20 anos, a rotina se repete: eles chegam sem nada além da roupa do
corpo, exaustos das caminhadas de semanas, às vezes meses, famintos em
busca de abrigo. Os portões de Dadaab, o maior campo de refugiados do
mundo, no Quênia, nunca se fecham - e o complexo, projetado para abrigar
90 mil moradores, está lotado. Nos últimos meses, superlotado: a pior
seca no Chifre da África em 60 anos está levando diariamente ao menos
800 pessoas a bater nas portas de Dadaab.
Passar pela porta de entrada do
complexo é uma vitória. Quem conseguiu chegar aqui sobreviveu à saída
de sua terra natal, a dias de caminhada sob um calor de 40ºC, passou
por estupradores e animais selvagens, enfrentou a fome e a sede. Os
recém-chegados são cadastrados, avaliados por um médico e recebem uma
cesta básica suficiente para até 21 dias – podendo ser renovada.
Depois, a dificuldade é achar um teto: desde 2008, quando o campo foi
declarado lotado, não há mais distribuição oficial de barracas. Cada um
faz uma casa com o que encontra, de gravetos a sacos plásticos.
Dadaab foi construído em 1991, quando estourou a guerra civil na vizinha Somália,
após a queda do ditador Mohamed Siad Barre. A Organização das Nações
Unidas (ONU), com a aprovação do governo do Quênia, montou na região
fronteiriça (onde já viviam quenianos de origem somali) um complexo de
três campos: Ifo, Dagahaley e Hagadera – cada um capaz de abrigar até 30
mil pessoas. A previsão era que o campo servisse de acampamento
temporário para aqueles que fugiam, e que eles pudessem voltar para suas
casas assim que o conflito terminasse. Mas, 20 anos depois, nada
mudou.
Fonte: http://edilsonange.blogspot.com/